A importância da política

Tempo de leitura: 2 min

Este post está um pouco atrasado, mas não quero deixar de resumir o que mais me impressionou no ESIG deste ano.

A apresentação que mais impacto me causou foi a do IGN, o congénere espanhol do IGP. O facto de haver uma política de disseminação da informação geográfica bem definida, com acesso gratuito para usos não comerciais, e a obrigatoriedade de independência tecnológica, é extremamente importante. Depois, o esforço continuado de reunir e publicar informação geográfica detida pelo Estado, ao nível central e regional, produziu um portal onde podemos aceder a um enorme arquivo de informação geográfica útil e actual. E as estatísticas de acesso são impressionantes. 200 milhões de pequenas transacções por mês (cada pan e zoom contam). Há uma política de partilha entre os serviços do Estado que contrasta com o que fazemos por cá. Mais ainda, esta política de partilha extende-se ao cidadão, o que para nós Lusos é uma prática pouco vista…

A título de exemplo posso relatar o caso de um amigo de faculdade que trabalha há alguns anos em Barcelona. A informação que mais utiliza são ortofotomapas e parcelário agrícola. Que obteve gratuitamente já que a sua actividade se encontra na esfera da iniciativa pública. Não teve dificuldades, é informação comummente disponível. Outro exemplo, desta vez pessoal. Quando necessitei de encontrar bacias hidrográficas e barragens na grande bacia do Guadiana, onde encontrei informação geográfica com estes dados? No lado de lá da fronteira, e incluía também dados para o território português. Lamento, mas no Atlas da Água não consegui obter dados equivalentes…

No lado espanhol, temos mais de 10.000 temas de informação geográfica disponível (segundo a apresentação no ESIG). Tudo disponível para visualização no site do geoportal (http://www.idee.es) e através de serviços WMS. No lado português temos o quê (http://mapas.igeo.pt/)? 7 serviços WMS, e 3 deles são de limites administrativos…

Esta realidade dos factos já era conhecida de todos nós. Mas foi angustiante ver as diferenças tão bem expostas ao assistir, em sequência, às apresentações do IGP e do IGN… em 5 anos o IGN tem um geoportal dos mais avançados do mundo. E nós?

Enfim. A vida continua, e ao reler este post percebo que é um desabafo, coisa pouco habitual neste blog. Termino com uma nota de expectativa positiva – o IGP inicia agora um novo período, com nova presidência. Pode ser que seja agora o verdadeiro início do SNIG?

6 thoughts on “A importância da política

  1. Duarte,

    De facto os números e iniciativas falam por si.
    Um outro aspecto interessante, é o facto do IGN ser um dos promotores do curso Infraestruturas de Dados Dspaciais (IGN) em regime e-learning, o qual está muito bem conseguido (participei na 5ª edição) e leva o povo para a temática do Inspire.

    Por cá, é como dizes, esperamos que a nova presidência esteja altura das nossas espectativas.

    Abraço,
    NS

  2. Luís, é um post muito cómico e bem disposto, e não deixa de acertar em várias dificuldades. Mas nós somos um país pequeno, e podemos bem ter uma pequena equipa a alimentar o sistema com a info estatal/governamental. Isto resolve o problema da iniciativa nunca partir dos produtores da informação por falta de estímulo/benefícios. Se for demasiada informação, então que se definam prioridades – sempre chegávamos a algum lado. E o posto do PR já não é à prova de fogo – o exemplo do sítio do governo UK acho que quebra a maldição dos SDIs. Pode é ser difícil de encontrar o que queremos, tanta a informação que está a ser publicada em catadupa.

  3. Aproveitei a hora do lanche para reflectir mais um pouco sobre a “Importância da Política” (só da política). E infelizmente não sou tão optimista relativamente à nova presidência do IGP, até porque já por lá passou. De qualquer forma a estrutura humana do IGP é sensivelmente a mesma de há 10 anos atrás, logo mesmo que exista uma visão estratégica por parte das chefias, vai sempre faltar quem realize o cross domain XMLHttpRequest.

  4. Claro que podemos sempre sonhar, e penso que quase é obrigatório sonhar para que as coisas aconteçam. Embora sou espanhola já estou em Portugal há muitos anos, tantos que já nem vejo fronteiras . . .desde que estou cá sempre tenho estado ligada a área dos Sistemas de Informação Geográfica e tentando acompanhar as novidades da nossa sociedade (Iberia) em temas de Informação espacial. Realmente nos últimos anos toda a equipa da IDEE tem feito um trabalho espectacular e uma das coisas que para mim é mais importantes é a formação gratuita e on-line que oferecem. Também tive a oportunidade de participar num dos cursos de Infraestruturas de Dados Espaciais e realmente constatei o esforço que têm vindo a fazer. Existe uma comunidade especializada que se beneficia todos os dias com a quantidade de dados disponíveis, mas cada vez mais o cidadão percebe e sabe a importância de ter aceso a esses dados que podem ajudar a decidir em coisas “tão simples” como a compra ou venda de uma casa ou um terreno…
    Penso que em Portugal estão para vir dias melhores e tenho a certeza que o IGP também está a trabalhar para construir uma boa base, não só no que toca a informação geográfica, mas também na formação, já nas escolas para que desde crianças fiquem habituados e conheçam as ferramentas que têm disponíveis.
    Sim, há muito por fazer ainda, mas quero pensar que estamos no bom caminho?
    Saludos desde algún rincon del sur de Iberia. . .

Deixe um comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *