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Altimetria Portugal 25m

Tempo de leitura: 9 min

Introdução

Há alguns anos publiquei um artigo sobre a conversão de um modelo digital do terreno global para o sistema de coordenadas português e também cortado aos limites de Portugal Continental (https://blog.viasig.com/2010/03/mdt-30m-para-portugal/). Depois coloquei-o numa partilha online. Até hoje continua a ser procurado, embora tenha já feito várias referências para novos dados – melhores e mais atuais.

Os dados que recomendo são da Agência Europeia do Ambiente – o EU-DEM – que pode ser obtido aqui: https://land.copernicus.eu/imagery-in-situ/eu-dem/eu-dem-v1.1?tab=metadata. Estes dados são baseados no SRTM, melhorados com uma série de correções que estão documentadas.

Este mdt tem 25m de resolução, com um erro médio quadrático de +-7m!! O que me parece excelente.

Nota técnica – na realidade estes dados não são um mdt, mas sim um mds – modelo digital da superfície, ou seja, não representam a cota do terreno e sim o topo dos objetos na superfície, como árvores e edifícios e outras estruturas. Mas mesmo isto não é bem correto no caso do eu-dem… Aparentemente, estes dados podem representar o topo de objetos, como árvores e estruturas, mas, por outro lado, como sinais radar (usados na missão original) podem penetrar a canópia das árvores, também não há certeza que os dados representem a cota do topo das árvores.

Este artigo é muito simples – pretende disponibilizar uma versão pronta a usar para Portugal. Nada de especial – vamos apenas derivar uma versão que estará projetada para o nosso sistema de coordenadas, e cortada à extensão do nosso país (continente), usando apenas o QGIS. No fim do artigo há um link para descarregar os dados finais preparados para Portugal.

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Raster Overviews

Overviews GDAL em modo Turbo

Tempo de leitura: 7 min

TLDR: Neste post discutimos formas de acelerar o processo de criação de overviews, e no fim usamos um script que reduz o tempo de processamento em 20%-50%. O script é apresentado abaixo e está no github.

Na visualização de rasters é obrigatório construir as overviews ou pirâmides, para conseguirmos uma visualização rápida.

As overviews são uma série de cópias do nosso raster com resoluções cada vez menores (pixeis maiores), e geralmente cada nível aplica uma redução de 50% na resolução. Por exemplo, numa resolução original de 0,30m/pixel, as overviews são imagens com resoluções de 0,60 – 1,20 – 2,40m/pixel e assim sucessivamente até que não faz sentido reduzir mais a imagem.

Overviews ou pirâmides permitem uma visualização rápida de rasters, através de imagens de resolução reduzida. (Obitdo em: https://eurogeographics.org/wp-content/uploads/2018/04/WCS-NLSS.pdf.)

Em geral, a construção destas pirâmides é feito com o comando gdaladdo, e é o processo mais moroso quando processamos grandes áreas. Nem a conversão com compressão, nem a união de muitos rasters leva tanto tempo.

Actualmente, com discos SSD rapidíssimos e memória super-abundante, e processadores multi-core, o comando gdaladdo que constrói overviews continua a usar apenas 1 core… por outro lado, é mais lento que outros comandos, como o gdal_translate.

Recentemente processei novos mosaicos para o Alentejo, desta vez com ortofotomapas com 0,30m de resolução, rgb+nir. E, claro, construir overviews foi uma tortura… mais de 8h para cada metade (dividi a área em 2 blocos este/oeste). O processador nunca passou dos 17% (i7 de 4 cores/8threads), e o disco SSD nunca passou de uns miseráveis 5MB/s (quando o disco é capaz de 1000MB/s). Muito frustrante…

O processo que uso consiste sempre em manter os ficheiros independentes, e criar um mosaico .vrt. Por hábito não crio mosaicos tif enormes. Este processo é descrito em artigos anteriores.

Depois de pesquisar online, vi 3 sugestões para melhorar o tempo de criar overviews:

Isto ensinou-me uma série de coisas novas:

  1. Os ficheiros .ovr são na verdade ficheiros TIFF multi-página (herança do tempo dos faxes!), onde um tiff é “colado” a outro dentro do mesmo ficheiro. Eu não sabia isto sobre os .ovr. Ou seja, cada resolução é um tiff, dentro do ovr, que é também um tiff (matrioska?).
  2. É possível juntar vários tiff num só tiff multi-página usando o comando “tiffcp tiff1 tiff2 tiffunido”.
  3. O OSGEO4W inclui uma versão “geo-activada” dos comandos tiff, mantendo as características SIG dos ficheiros.
  4. Podemos ter overviews de overviews, juntando a extensão .ovr ao ficheiro .ovr anterior, numa sucessão que funciona em gdal, qgis, e arcgis. Deve funcionar nos restantes programas, como geoserver, mapserver, etc.
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Medir o desempenho do PostGIS

Tempo de leitura: 6 minUma das formas de medir o desempenho do PostgreSQL no nosso servidor, é usar o pgbench, a ferramenta padrão incluída com a instalação do pgsql. Há tempos fiz uns testes de comparação de 2 servidores que publiquei aqui: http://blog.viasig.com/2014/08/medir-o-desempenho-do-postgresql/.

Ora, esses testes usam dados alfanuméricos e queries “normais”, de escrita e leitura, usando tabelas relacionadas. Ou seja, o pgbench tenta simular uma utilização usual do pgsql.

No nosso caso, SIGianos, a utilização usual não tem nada a haver – usamos dados espaciais e queries muito próprias. Este artigo mostra uma forma de medirmos o desempenho do PostGIS, usando também a ferramenta pgbench.

Uso “normal” de SIG

Quando um programa “normal”, não geográfico, consulta uma base de dados, em geral, obtém alguns registos, e pode até cruzá-los, para dar um resultado final. Provavelmente, apresenta uma tabela de resultados, paginados, com algumas colunas (menos de 10?). Um bom exemplo, é um programa de facturação ou de gestão de stocks. É este tipo de programas que o pgbench tenta simular.

Há uma enorme diferença para o uso que um programa de SIG faz de uma base de dados. O uso normal SIG é visualizar um mapa. E isso faz toda a diferença.

image

Este simples mapa de enquadramento usa 7 tabelas. A área visível usa um total de 618 registos (1+261+177+1+3+29+146). Se visualizarmos o país inteiro, a conta passa para 5841 registos. É muita informação para uma das operações mais básicas – pan e zoom.

Do ponto de vista da base de dados, o uso SIG é diferente:

  • Um mapa é, tipicamente, composto por diversos temas (facilmente mais de 10);
  • Cada tema é uma tabela espacial diferente na base de dados, logo em cada visualização vamos ler uma série de tabelas;
  • Cada tema/tabela pode ser lido na totalidade (não paginado) se visualizarmos toda a área do tema;
  • Cada tema/tabela pode ter aplicada uma selecção (filtro) logo de início com base nos atributos (e.g. para vermos apenas uma categoria de rios ou estradas);
  • Cada tema/tabela pode ainda ter aplicado um filtro espacial se estivermos a visualizar apenas uma área específica (ou seja, são apenas pedidos os dados relativos ao rectângulo visível no mapa);
  • Mas, principalmente, os dados geográficos são muitos mais “pesados” ou “gordos”: têm uma coluna que contém todos os vértices da geometria! (Cada vértice tem 2 números do tipo double, o que equivale a 2 colunas em dados alfanuméricos.)
  • Para agravar a coisa, os utilizadores nunca escolhem os campos que precisam para trabalhar, e assim quando abrem a tabela de atributos todos os campos são lidos.

Usar o pgbench para simular utilizadores SIG

Uma das capacidades do pgbench é que permite testar queries à base de dados feitas por nós, em vez de usar as pré-definidas. Basta criar um ficheiro sql que contém as nossas queries e passá-lo ao pgbench com o parâmetro –f. Continuar a lerMedir o desempenho do PostGIS

Mosaicos com áreas transparentes

Tempo de leitura: 9 minNeste artigo regresso a um assunto já familiar neste blog – criar mosaicos de ortofotomapas usando o GDAL – (sim eu sei, outra vez?) mas como tenho andado às voltas com as áreas sem informação, que surgem negras nos mosaicos pensei em postar o que acabei por fazer. A solução final é usar máscaras, e não bandas alfa como habitual. Vamos ver como e porquê… assume-se já alguma familiaridade com o GDAL, mas pode sempre saltar as partes teóricas aborrecidas e ver os comandos usados no final do artigo 😉 Ler artigo completo

QGIS – Revisitando ficheiros DXF

Tempo de leitura: 3 minO QGIS há muito tempo que lê ficheiros DXF ASCII, aproveitando sempre os melhoramentos que a biblioteca OGR vai trazendo com as novas versões.

Estando a planear introduzir o QGIS na empresa de forma generalizada, tive que revisitar esta função, dado que ler CAD é uma função essencial para muitos utilizadores.

Update 2013-06-05: O problema já foi resolvido. A versão de desenvolvimento já permite abrir ficheiros dxf e escolher que tipo de geometria queremos carregar. Realmente, trabalhar assim é uma maravilha.
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PostgreSQL e ESRI – parte 4

Tempo de leitura: 6 minO subtítulo deste artigo devia ser “O bom, o mau e o péssimo”…

Depois de ter respondido a um comentário que me perguntava sobre a nossa experiência em curso de migrar para PostgreSQL, pensei em melhorar a resposta e fazer um artigo – a maior parte da escrita já estava feita de qualquer forma 😉

Responder ao comentário levou-me a pensar mais um pouco sobre a questão… e uma parte que me parecia pouco clara é o porquê de fazermos a migração para PostgreSQL (pgsql prós amigos) e porquê insistir em usar geometrias PostGIS (geometrias pg)? Só para recordar: a ESRI permite 2 formatos de armazenamento das geometrias nas bases de dados que suporta – ou no formato ESRI (que chamou de ST_Geometry) ou no formato “nativo” da bd.
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QGIS e conflitos com DLLs Qt

Tempo de leitura: 2 minEste curto artigo serve como memória para mim e pode ser que seja útil a quem também tenha o mesmo problema…

Como uso o Cartão do Cidadão tenho instalado o software respectivo. Este coloca na pasta \windows\system32 algumas DLLs de Qt que necessita. Inicialmente pensei que seria um bocado desleixado dos autores colocarem aqui e não na pasta do programa, mas hoje penso que será uma necessidade para permitir que o Internet Explorer possa usar a autenticação do CC em sites como os de contratação pública.

O problema é que o QGIS usa também o Qt (pacote de programação de interfaces gráficas), e instala de forma bem comportada, as DLLs que precisa na sua própria pasta. Sucede que o Windows carrega primeiro as DLLs que encontra na pasta system32

Como o Windows encontra as mesmas DLL’s na pasta system32 carrega estas, que são de uma versão mais antiga, em vez das que são incluídas no QGIS. O resultado é um erro críptico de “entry point not found”…

 

QGIS: Missing Entry Point
QGIS: Missing Entry Point

A solução que tinha encontrado inicialmente era simples: retirava as DLL’s do CC da pasta system32 sempre que usava o QGIS. E voltava a colocá-las lá quando queria usar o CC… very boring…

Mas há outra solução. O Windows obedece a uma ordem de pesquisa de DLL’s e sucede que a pasta onde se encontra o executável é procurada antes da system32. Assim, no caso do QGIS 1.7  basta copiarmos as DLL’s do Qt da pasta C:\OSGeo4W\bin para a pasta C:\OSGeo4W\apps\qgis\bin. E fica resolvido para todo o sempre, amen.

QGIS e CAD

Tempo de leitura: 9 minOs ficheiros CAD são uma das principais fontes de dados para um SIG.  Este artigo analisa as possibilidades actuais de lidar com CAD no Quantum GIS.

CAD e SIG

Existe uma rivalidade antiga entre quem trabalha com software CAD e quem trabalha com software SIG – é comum ouvirmos dizer coisas como “o CAD é menos avançado”, ou “os tipos do SIG têm a mania de complicar as coisas”, entre outros mimos. Na realidade CAD e SIG são ferramentas usadas para fazer coisas diferentes, com métodos de trabalho diferentes, e que (infelizmente) têm de conviver de forma muito próxima, sem se compreenderem muito bem… (Aviso: tentei ser isento, mas acho que desisti a meio do texto…)

Simbologia é informação

No CAD esta afirmação é verdadeira. No SIG não.

No CAD eu desenho os meus elementos gráficos com o objectivo principal de obter uma visualização – para ver no monitor ou para imprimir. Quanto mais produtivo for a criar a minha visualização melhor técnico CAD serei. Os elementos que crio no ficheiro CAD representam exactamente o que preciso de ver: uma árvore é constituída por uma copa, um poste de iluminação tem um pé e uma lâmpada, uma área ajardinada tem vários pequenos arbustos. Eu posso seleccionar cada um destes elementos e alterá-los para obter a visualização exacta que pretendo. Quando gravo um DWG ou um DGN gravo tudo isto – uma linha com dada cor, espessura, tipo de tracejado – gravo no ficheiro as geometrias que são também a simbologia em simultâneo. A estrutura do meu desenho é constituída pela forma como eu organizo os meus elementos por camadas (layers ou levels), e como crio os meus elementos (blocos ou elementos simples).

No SIG a situação é muito, muito semelhante. Mas 2 ligeiras diferenças são suficientes para tornar o diálogo entre as equipas CAD e SIG difícil e por vezes até antagónico.

1) No SIG eu desenho apenas geometrias. Recolho vértices XY. E recolho características das geometrias, que armazeno em atributos. Todas as geometrias que recolho num ficheiro têm sempre os mesmos atributos, e por isso descrevo-as de forma sistemática, formando uma tabela. Não há simbologia envolvida no processo. Ao gravar o trabalho num ficheiro de dados, guardo apenas vértices XY e atributos, sendo uma das razões por que grande parte do trabalho é focada em organizar informação, em decidir que atributos cada ficheiro terá. Mas esta obsessão organizativa vai mais longe! Cada ficheiro tem apenas um tipo de geometria – ponto, linha ou polígono – que nunca se misturam no mesmo ficheiro.

2) No SIG a simbologia é aplicada por regras a um ficheiro – não se define a simbologia de um só elemento. Usam-se os atributos para seleccionar um conjunto de geometrias a que depois aplicamos uma certa simbologia. Por exemplo, podemos representar especificamente as cidades com população maior que 1 milhão de habitantes como círculos pretos, as restantes cidades com um quadrado.  Se todos os pontos que são as cidades tiverem um atributo com a sua população, o software SIG aplica esta simbologia facilmente. Uma consequência desta abordagem à simbologia é que passa a ser dinâmica. Se quisermos alterar a simbologia, não alteramos as geometrias – alteramos as regras da simbologia. Para guardar a simbologia usam-se ficheiros de projecto, que não têm dados, apenas regras e definições de como representar a informação e como a imprimir (formato da página, orientação, seta do norte, título, ou seja, o layout).

cad_carto_thumb[1] sig_carto_thumb[1]
CAD SIG

Exemplo de informação CAD original, e quando convertida para SIG.

Então qual é o problema?

Como dizem os políticos, ainda bem que fez essa pergunta…

Pois é, o problema é na conversão de CAD para SIG. Este é um assunto muito extenso e interessante, mas como é Verão apetece mais uma bejeca… 🙂 Mas ainda consigo lembrar-me de 3 grandes problemas nesta conversão:

1) Seleccionar num ficheiro CAD elementos que têm o mesmo significado é geralmente difícil. Se todos pontos que são as cidades estiverem num único layer, e nesse layer não existir outro tipo de pontos, então a sua selecção é facílima. Mas isso raramente acontece… geralmente elementos gráficos com diferentes significados coexistem no mesmo layer.

2) Determinar a posição correcta de um elemento é muitas vezes difícil – a cidade está no ponto de inserção do bloco, ou é o ponto central do bloco? O ponto cotado é o ponto de inserção, ou é a virgula decimal do texto da cota? E aqui junta-se a dificuldade de evitar as tramas ou “hatches”. (As tramas são linhas que representam simbologia mas não representam uma entidade no terreno. Geralmente aplicadas a polígonos, servem de arranjo gráfico, e não devem ser convertidas para SIG.) Outro exemplo são marcas quilométricas em eixos de infra-estruturas… no CAD são importantes, no SIG são considerados erros de conversão. Outro grupo de problemas pode ser aqui incluído – questões como converter linhas fechadas do CAD para polígonos no SIG, reconhecer vazios, e outras questões semelhantes…

3) E finalmente, recolher atributos juntamente com as geometrias é muitas vezes… … … difícil (novamente)! e para o SIG os atributos são fundamentais. Por exemplo, qual é a cota de cada ponto cotado ou curva de nível? Ou qual é o nome de cada eixo de rua? A verdade é que já foi feito o trabalho de recolha e digitalização desta informação pela equipa CAD, mas mesmo assim não é possível muitas vezes usá-la num SIG (ou noutro sistema qualquer). No CAD, o texto que mostra o nome de uma rua é uma entidade gráfica  independente da linha, e por isso não existem métodos automáticos fiáveis para associar cada linha a cada texto. A não ser que se crie o ficheiro CAD já com a preocupação de permitir este tipo de interoperabilidade, e assim avançamos para tópicos de CAD avançados que (na minha experiência) escapam à maioria dos desenhadores.

Então e agora?

Pois é… agora estamos todos numa grande alhada. Ao fim de dias a tentar converter ficheiros CAD, o pessoal do SIG está pronto a abraçar uma vida de crime, começando por cometer uma série de homicídios lá para as bandas do CAD.

A única solução é conhecer bem o software que usamos. Com o tempo vamos aprendendo as técnicas que o software suporta para conseguir conversões cada vez mais automáticas. Mas tudo depende dos ficheiros originais CAD. E é muito importante poder contar com alguém no “lado” CAD que possa alterar os ficheiros CAD de forma a facilitar o processo de conversão.

Outra via de facilitar a vida a todos os técnicos envolvidos num processo que passe por CAD e SIG, é estabelecer regras para os ficheiros CAD que facilitem depois um processo menos manual de conversão. E isso novamente vai depender da informação em causa, e do tipo de AutoCAD em uso (“normal”, Map, Civil…). Por exemplo, no AutoCAD Map podemos criar Object Data, Object Class, ou até ligar os nossos elementos gráficos a tabelas de atributos externos, mas em AutoCAD “simples” isso já não é possível…

Portanto, não há regras infalíveis. Cada caso é um caso, como se diz. Mas há regras de bom senso que resultam sempre bem – agrupar elementos gráficos com o mesmo significado num só layer é uma dessas regras: só eixos de via num layer, e todos os eixos de via estão nesse layer (não há outros tantos eixos noutros tantos layers); cada layer tem um nome claro e intuitivo (nada de layers com nomes do tipo “ev_de” – que quereria dizer “eixos de via do distrito de évora”…); para layers de polígonos criar também o respectivo layer de anotação ou blocos de atributos (onde também marcamos os vazios), e outras regras deste género. Bom senso é muito subestimado hoje em dia…

QGIS

E finalmente chegamos à parte principal do artigo, que originou o seu nome…

O QGIS usa como leitor de dados as bibliotecas do GDAL (imagens) e OGR (vectores). Este facto não é muito visível para o utilizador, mas é importante para compreender as capacidades do QGIS. Estas bibliotecas têm drivers que são responsáveis por cada formato que o GDAL/OGR suporta. No caso de ficheiros CAD só 2 formatos são suportados – DXF e DGN. Está já pronto um novo driver para DXF e que lê também DWG, mas ainda não é incluído no QGIS (nem mesmo na versão 1.5 a lançar já em Julho).

O caso DXF

O OGR converte DXF para qualquer outro formato que suporte, como o shapefile. E mantém alguns atributos, como o layer, o que é muitas vezes suficiente para converter e organizar a informação CAD. Mas enquanto o QGIS não usar uma versão de OGR que inclua o driver DXF não vamos conseguir ler estes ficheiros directamente no QGIS. Temos assim de usar comandos de linha…

Assim, para evitar usar a linha de comandos do OGR, podemos fazer esta conversão no QGIS usando o plugin Dxf2Shapefile (incluído na instalação do QGIS). Mas surpreendentemente este plugin não mantém quaisquer atributos quando converte ficheiros DXF, e ficamos com pontos, linhas e polígonos sem sabermos o que representam. O que é muito desapontante.  A sua utilização é muito fácil, mas os resultados são pobres dada a flagrante ausência de atributos.

image

Conversão de DXF para Shapefile no QGIS – perdem-se os atributos.

O caso DGN

Há uma outra opção – o QGIS lê directamente ficheiros DGN, e carrega-os para o mapa sem ser necessário uma conversão prévia. E melhor ainda, vários atributos são visíveis, e assim, tendo o ficheiro CAD no nosso mapa, podemos aplicar selecções de acordo com o level (equivalente ao layer dos DXF), e gravar para ficheiros shapefile.

image

O QGIS consegue ler DGN directamente e mantém atributos como o level, permitindo fazer selecções e gravar para shapefile.

Uma surpresa é que o DGN é carregado com todas as geometrias misturadas num só tema. O que é invulgar. Temos de nos habituar a esta ideia e encontrar forma de filtrar cada tipo de geometria para as conseguirmos separar e exportar para shapefile. Isto é, vamos criar um filtro (Query) no QGIS para ficar apenas com pontos, e exportá-los para um shapefile. E fazemos o mesmo depois para isolarmos as linhas e os polígonos.

Como o QGIS usa o OGR para ler ficheiros DGN, basta uma consulta à página do driver DGN do OGR, para ficarmos a saber quais os atributos a que temos acesso com ficheiros DGN. E vemos que o atributo “Type” indica o tipo de geometria:
Line (3): Line geometry.
Line String (4): Multi segment line geometry.
Curve (11): Approximated as a line geometry.
B-Spline (21): Treated (inaccurately) as a line geometry.
Arc (16): Approximated as a line geometry.
Ellipse (15): Approximated as a line geometry.
Shape (6): Polygon geometry.
Text (17): Treated as a point geometry.

Ou seja, para no QGIS seleccionar todas as linhas num DGN, podemos usar a seguinte query (usando a opção “Query” no menu de contexto do tema DGN, acedido clicando com o botão direito sobre o tema DGN):

Type = 3 OR Type = 4 OR Type=11 OR Type = 21 OR Type = 16 OR Type = 15

image

No QGIS filtramos o DGN com uma query, para isolar um só tipo de geometria (ponto, linha ou polígono).

Depois de fazer a query todos os elementos que restam visíveis no QGIS serão linhas, e podem ser gravados para um shapefile usando a opção “Save as” do menu de contexto do tema.

Depois de termos a informação dividida por 3 shapefiles, um por tipo de geometria, podemos então fazer selecções por level para tentar isolar objectos com determinados significados.

Na verdade nem é preciso exportar para shapefile. Podemos simplesmente carregar o ficheiro DGN, filtrar as geometrias, e aplicar depois a simbologia que queremos. Será necessário converter quando, por exemplo, quisermos converter uma série de ficheiros DGN  num único shapefile com toda a informação (ou para outro formato como PostGIS ou SpatiaLite).

O caso DWG

Este é o pior formato de informação geográfica do mundo. Ponto.

Além de ser alterado a cada 3 anos, é completamente fechado, isto é, para poder ler e escrever este formato é necessário pagar a terceiros, como a Autodesk ou a Open Design Alliance. A propósito da ODA e da má fama do DWG, podem ler esta novela espantosa relatada pelo 1º presidente desta ilustre fundação. Mas pode ser que as coisas estejam a mudar. Recentemente, a ODA chegou a acordo com a Autodesk e lá resolveram as disputas sobre marcas comerciais, e por coincidência (ou não) em Junho publicaram as especificações actualizadas que desenvolveram para ler e escrever DWG. É melhor aproveitar e fazer o download, não vá a situação alterar-se… Estas especificações têm sido insuficientes para criar programas que consigam escrever ficheiros DWG válidos, mas pelo menos para ler estes ficheiros já foram suficientes. Esta nova actualização não sei se virá alterar esta situação, mas terá nova informação sobre o formato DWG 2010…

Não vou alongar-me mais sobre o formato, interessa apenas frisar que até agora o software Open Source teve de criar bibliotecas para ler (ou escrever) ficheiros DWG fazendo um enorme esforço de “reverse engineering”. Que além de ser um trabalho muito pouco interessante, tem de ser revisto a cada 3 anos.

Assim, o QGIS não lê DWG. É possível que o venha a fazer no futuro próximo, havendo avanços no OGR nesse sentido. A ver vamos…

Mesmo a terminar este assunto, tenho de referir que o gvSIG lê DWG até à versão 2004…

Conclusão

Dadas as dificuldades actuais de interoperabilidade do formato DWG, este não é viável de momento com QGIS.

A opção DGN é muitíssimo funcional, e até muito fácil de trabalhar no QGIS. Para utilizadores de Microstation é óptimo. Para utilizadores de AutoCAD há a possibilidade de exportar para DGN a partir do AutoCAD 2008. Para os outros produtos baseados em DWG/DXF já não se pode dizer o mesmo.

Finalmente, o formato DXF é de momento uma má opção, a não ser que façamos a conversão pela linha de comando do OGR para shapefile ou semelhante. Mas espera-se em breve ter no QGIS um suporte ao nível do DGN. Mesmo assim, também obriga à exportação para DXF (a partir do formato CAD nativo), sendo um passo extra que é mais uma pedra na engrenagem para os técnicos CAD.

Se souberem de outras possibilidades aproveitem a secção de comentários.

Até breve.