Tempo de leitura: 4 minEstou a digerir tudo o que vi na formação de 3 dias sobre metodologias Agile e Scrum e este post servirá como bloco de notas.
Esta semana estive 3 dias em formação com o excelente formador Mitch Lacey. Este sr. tem já uma grande experiência em projectos de desenvolvimento de software, e ouvi-lo foi realmente uma experiência enriquecedora.
Não vou entrar em grandes detalhes teóricos sobre Agile/Scrum, porque não sou definitavemente a pessoa indicada para o fazer. Vou em vez disso enumerar os pontos que mais me impressionaram e que mais valor terão se os integrar na forma como a “minha” equipa funciona. Portanto, as afirmações seguintes devem ser encaradas como uma perspectiva muito pessoal…
Agile é um conjunto de práticas que visam desenvolver um projecto de forma iteractiva, com ciclos curtos entre versões intermédias antes de chegar à entrega final, com vista a reduzir os riscos associados a este tipo de projectos – sendo o maior entregar um produto que não se ajusta à visão do cliente!
Scrum é a metodologia Agile mais difundida, e obteve o seu nome do Rugby: scrum é a altura em que os jogadores se reunem para reiniciar o jogo, e ambas as equipas disputam a bola. Em Agile, Scrum é um método em que uma equipa de desenvolvimento se concentra ferozmente em terminar um conjunto de tarefas num prazo curto – tipicamente 14 ou 28 dias – e se compromete a no final do prazo produzir uma versão funcional do produto que está a desenvolver.
Qual é a grande diferença em relação ao processo tradicional (designado “Waterfall” ou “em Cascata“)? É que no processo Waterfall, os requisitos para a aplicação a desenvolver são definidos à partida, na fase de levantamento e definição dos mesmos. Em seguida, esta lista de especificações é trabalhada com o cliente final, e atinge-se um acordo, sendo fechada a lista de itens a implementar. E é aqui que este método tem a sua maior fraqueza: é pouco flexível, e não considera facilmente requisitos que se alteram com o tempo (alguém se identifica com esta experiência??). A analogia de construir uma casa é muito clarificadora: ao olhar para a planta da minha futura casa, posso ficar muito satisfeito com o que está planeado. Mas, mais tarde, ao andar pela estrutura já construída da casa, vou conseguir obter uma visão mais clara do que estava na planta, e consequentemente vou definir melhoramentos e até novas funções que quero ter na versão final da casa. Isto é um processo natural e não deve ser combatido. E é o que os métodos Agile nos oferecem: ao cliente final permite algum controlo durante a vida do projecto, e à equipa de desenvolvimento permite um grande poder de adaptação à mudança, permitindo concluir o projecto dentro do prazo e do orçamento, mesmo absorvendo alterações aos pressupostos iniciais. E para descansar os espíritos mais desconfiados, resta acrescentar que esta metodologia é reconhecida pelo PMI, e é usada pelas maiores empresas de software como Microsoft ou IBM.
Porque é que estas técnicas me interessaram? Os pontos mais importantes:
- A equipa de desenvolvimento com que trabalho é pequena – podemos contar com 2,5 técnicos (sim, temos realmente uma metade de técnico!), e somos facilmente dispersados por várias solicitações em simultâneo
- O meio onde nos inserimos é muito dinâmico – as alterações aos requisitos são muito frequentes, e a sua definição inicial é muito difícil de obter e estabilizar
- Trabalhamos para o “Cliente Interno”, onde as relações informais dominam, e os processos formais inerentes ao método Waterfall dificilmente são aplicados e respeitados
Da abordagem Scrum, estes são os pontos que mais me agradam e que vejo possibilidade de implementar rapidamente:
- Definir o “Product Backlog”, que mais não é que uma lista de funções a implementar numa aplicação, ordenada por prioridade
- Definir o “Sprint Backlog”, que é a lista prioritizada de funções que vamos implementar no próximo ciclo de 14 dias (o sprint)
- Reuniões relâmpago diárias, onde rapidamente (15 min.) cada um dos elementos da equipa percorre estes 3 pontos – o que concretizaste ontem, o que vais fazer hoje, e tens algum ponto crítico?
- Estar atento a solicitações de alterações ou novas funções, mas lutar por integrá-las no Product Backlog, que poderá ser re-prioritizado todas as semanas (mas as funções só podem entrar num sprint no seu início)
- Consciencializar todos os elementos da equipa de que todos são responsáveis pela equipa! Todos se devem preocupar com a saúde emocional da equipa e com a concretização dos compromissos assumidos com o exterior (notem aqui a grande diferença mental entre cumprir objectivos e cumprir compromissos)
- Obter uma versão funcional no final de cada Sprint! E demonstrá-la. Na teoria Scrum, a demo deve ser feita ao cliente. No meu caso, parece-me mais plausível realizar uma demo interna à equipa, para validar a direcção dada ao projecto, detectar incongruências, enfim, andar pela estrutura da casa e ver se é como imaginámos quando fizemos a planta…
É realmente uma forma de trabalhar muito aliciante, e que de alguma forma torna o desenvolvimento de projectos mais humano.
Algumas ferramentas consideradas essenciais a uma boa prática Agile já utilizamos na equipa:
- Repositório de código e Controle de versões – usamos o SVN, e o AnkhSVN para integrar com o Visual Studio. Não há checkin de código que não compile. Este é um passo fundamental na organização da equipa!
- Documentação – embora não tenhamos ainda a prática de documentação automática do código, embora já se tenha discutido o assunto várias vezes, usamos um Wiki para documentar quer a vertente técnica quer a vertente de utilização das aplicações
E das peças que nos faltam, o que podemos integrar no nosso caso particular?
- Teste unitários – é algo que deveremos implementar, mas que está ainda algo longíquo de ser possível… é necessário primeiro re-organizar o código em componentes suficientemente pequenos, modulares, para possibilitar esta técnica. Mas os ganhos são óbvios – rapidez de efectuar testes e na detecção de bugs
- Test Driven Development – ver ponto anterior, é algo desejável, mas cuja execução obriga a remodelar o repositório de código existente. Talvez a longo prazo seja possível…
Para mais informação recomendo vivamente a leitura deste artigo: “Agile Project Management for GIS“. Muitos mais podem ser encontrados “googlando” a Internet (como por exemplo este na revista PM Network, pp 42). E para aqueles que ficarem convencidos, fica a referência do curso – Fullsix.