Balanço Open Source para SIG

Tempo de leitura: 3 min

Já há algum tempo que tenho planeado escrever sobre a integração entre Postgresql e ArcSDE, agora que a ESRI suporta esta combinação. Mas ao começar esse artigo dei por mim a reflectir sobre a utilização que faço de ambos os mundos – open e closed source…

Sou utilizador de software ESRI há muitos anos, e sou também utilizador de software Open Source em tempo igual. Curiosamente.

Sucede que comecei a trabalhar em SIG num projecto de investigação na universidade (no Instituto Superior de Agronomia, “antigo” Dept. de Eng.ª Rural), e em simultâneo iniciei o mestrado. No projecto de investigação trabalhei com Linux, aprendendo as bases deste SO que ainda hoje me servem – na altura não havia sistemas de distribuição de pacotes de software já pré-configurados… por exemplo, o sistema de email que usava tive que o compilar… outros tempos (sou tão velho “informaticamente” que a minha mulher quer oferecer-me pelo aniversário uma tshirt do ZX Spectrum). Para a tese de mestrado usei ArcInfo numa estação de trabalho IBM com o SO AIX, uma variante de Unix desenvolvido por este fabricante. Desde aí mantive o gosto por Open Source, e continuei utilizador ESRI.

Para um utilizador ESRI, a integração com software Open Source é uma questão muito pertinente, por vários motivos – anoto aqui apenas alguns. Afinal, e não o escondo, o ArcGIS é o meu software SIG favorito, mas não faz tudo o que preciso, e nem tudo o que faz é feito da melhor forma. Nada melhor do que complementá-lo com pérolas de software gratuito. Por outro lado, existem tarefas para as quais prefiro utilizar um programa mais ligeiro, como o QGIS. E claro, para tarefas relacionadas com outro software Open Source também não é o mais indicado. Por exemplo, exportar um ficheiro .map para o MapServer a partir de um mapa devidamente simbolizado. Também a interoperabilidade e capacidade de interagir com os diversos standards OGC são limitadas no ArcGIS em alguns aspectos. Por exemplo, criar ficheiros SLD (de simbologia) para uso no GeoServer. Mas para os críticos do ArcGIS não se ficarem a rir, não conheço nenhum outro programa que crie ficheiros KML tão facilmente e com tanta funcionalidade como o ArcGIS. E o KML também é um standard OGC…

A situação com o Software Aberto na área SIG (SASIG) teve uma evolução explosiva nos últimos anos. Na minha opinião, devido em grande parte à publicidade positiva que a área recebeu da Google e a Microsoft. E hoje o panorama de software no lado do servidor e no lado do desktop é extraordinário. O software Open Source não serve só como complemento, e terá todo o mérito e capacidade em ser utilizado como peça central de um SIG. Tudo depende dos objectivos, necessidades, e processos de trabalhos escolhidos.

No servidor, temos 3 players fenomenais: MapServer, GeoServer (web), e Postgresql+PostGIS (bd).

No desktop, podemos também escolher facilmente 3 campeões da causa: gvSIG, Kosmo, e Quantum GIS – embora existam muitos mais.

Na categoria de ferramentas para conversão de dados, que tanto são usadas no lado servidor como no lado desktop, temos o incontestável par GDAL/OGR para raster e vector. Outras iniciativas mais recentes que poderão ser interessantes são o FeatureServer, o Spatial Data Integrator e o GeoKettle (ambos semelhantes ao FME).

Para o desenvolvimento de aplicações web também temos óptimos produtos: OpenLayers, pmapper, MapFish, e vários outros.

Já para desenvolver aplicações desktop o cenário é muito diferente, e não será uma tarefa fácil tentar criar uma aplicação SIG baseada em componentes Open Source. Pessoalmente, a minha opção seria sempre pela facilidade de utilização, e assim optaria pelo objecto ActiveX do MapWindow GIS, ou o extraordinário SharpMap para .NET (cujo desenvolvimento tem sido extremamente lento, para grande desencanto da comunidade… o jovem Morten foi contratado pela… (suspense)… ESRI!). Estas seriam as opções mais simpáticas, com menor exigência técnica e de tempo para criar uma aplicação SIG desktop adaptada a um objectivo específico.

Para adeptos Java existem também várias opções, embora mais complexas. As opções mais proeminentes serão a GeoTools (sem mecanismo de visualização?), GISToolkit (última versão de 2003), e OpenMap (apenas visualização). O mundo Java é para mim mais desconhecido, e agradeço contribuições de quem tenha mais prática com esta tecnologia para esclarecer a situação actual face a componentes SIG.

A área continua a evoluir e é difícil manter uma noção actualizada do que vai acontecendo nos vários domínios. Têm vindo a ser publicados artigos com o diagnóstico da “situação actual”:

Faltará talvez uma página web fixa onde se possam actualizar os vários produtos, talvez num wiki? Para nós lusófonos, seria excelente manter uma página destas no wiki do OSGeo PT. Há voluntários???

6 thoughts on “Balanço Open Source para SIG

  1. Fogo…você foi no ponto certo com esse texto. Tenho a mesma opinião em relação ao ArcGIS (não abro mão dele), excelente para muitas coisas, mas não faz tudo e temos que fazer uso de alternativas. Utilizar o melhor dos dois mundos é inevitável.

    Sinto falta de um software sig opensource que seja realmente bom…um dia chegaremos lá.

    Parabens pelo texto e boa semana.

    Luiz Amadeu Coutinho
    http://geoinformacaonline.com

  2. Luiz, Obrigado pelo comentário!

    O desktop SIG Open Source tem vindo a crescer mais rápido ultimamente, e o QGIS parece ter ganho também alguma velocidade. Pode ser que venha a ver o seu desejo concretizado mais rapidamente do que o esperado…

    Duarte

  3. Excelente post. Bom para profissionais experientes, pois reflete bem o exercicio da profissão neste segmento junto às soluções de mercado, e melhor ainda para leigos ou iniciantes, por posicionar e contrapor, de maneira clara, os dois universos de soluções para SIG: as soluções abertas e fechadas.

  4. Lelis,

    Obrigado. Agora ao reler o post, mais de um ano depois, parece-me já um pouco desajustado. O QGIS tem realmente uma velocidade de desenvolvimento impressionante. Neste último ano, adquiriu excelentes capacidades de impressão, edição topológica, integração com GRASS, ligação a serviços WMTS, e um sem número de plugins que o colocaram em 1º lugar na minha lista de sig desktop open source (como o Gdal Tools). Isto para além de ser muitíssimo estável (talvez por ser programado em C/C++?). Para além disso como suporta plugins desenvolvidos em Python torna-se muito fácil fazê-lo (em vez de C ou Java).
    Tenho que arranjar uma tshirt!!! 😉

  5. Boa noite !
    estou aqui com algumas dificuldades em encontrar informação sobre software open-source e software proprietário .. será que alguém me poderia disponibilizar alguma informação ou dizer onde poderei encontrar ???
    estou a fazer um trabalho para a cadeira de SIG sobre – conceitos software open source e proprietário; – identificar e caracterizar soluções de software SIG desktop open source e proprietario; – uma analise comparativa entre os dois; – aspectos positivos e negativos.
    se alguem me puder ajudar ate terça-feira, ficaria muito agradecido. mandem informação para o e-mail
    luis-17_@hotmail.com
    Obrigado

  6. Luis, lamento só agora ter visto o seu comentário… de qualquer forma, pode sempre começar pelo site da osgeo, a associação internacional de promoção de open source em SIG. (osgeo.com)
    Aqui encontra a descrição da associação e um conjunto de projectos que cumprem com os requisitos de qualidade, sustentabilidade e abertura para serem considerados projectos apoiados e promovidos pela associação.
    Quanto a vantagens e desvantagens, no geral seguem-se as análises feitas independentemente do tipo de software.

    Bom trabalho,
    Duarte

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