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PostgreSQL e ESRI – parte 3

Tempo de leitura: 5 min

Esta é a parte 3 desta série, sobre a utilização de PostGIS com ArcGIS, que aborda a estruturação da bd PostGIS. Os artigos anteriores são:

Depois de instalar o PostgreSQL+PostGIS+ArcSDE, e configurar o formato de armazenar os nossos dados na bd, para que usemos as geometrias nativas do Pg em vez dos objectos ESRI (para compatibilidade com software Open Source), teremos de definir que utilizadores vamos criar na bd, e a forma como organizamos os dados.

Bases de Dados e Utilizadores

A organização interna do PostgreSQL é algo semelhante à do SQL Server, e bastante diferente do Oracle. Por exemplo, um servidor PostgreSQL contém várias bases de dados, ao contrário do Oracle onde uma bd corresponde a um serviço ou instância. Se quisermos mais bd’s temos de criar novas instâncias, com configuração independente, conexões, dados, utilizadores, etc.

Durante a instalação do PostGIS é instalada uma bd chamada “postgis”, e podemos usá-la para armazenar os nossos dados geográficos ou podemos criar outras bd’s ao nosso gosto…

Podemos assim guardar a informação geográfica na base de dados postgis que é criada durante a instalação do PostGIS. Ultrapassada esta decisão, temos de criar e configurar os utilizadores que vamos usar para carregar a nossa informação, evitando usar os utilizadores de sistema, criados durante a instalação, que são o “postgres” e o “sde” (utilizador criado pela instalação do ArcSDE e que serve para efectuar a sua gestão). A criação de novos utilizadores é muito recomendado e geralmente é omitido nos tutoriais e instruções de instalação…

Pessoalmente, prefiro configurações com poucos utilizadores, criando apenas 1 login para cada uso: os utilizadores do SIG usam o mesmo login para a visualização, e um outro para a gestão dos dados (criação, edição, eliminação de layers, metadados, etc.). Aplicações webgis podem partilhar também um único login para acesso aos dados. A abordagem oposta é a de criar um login por utilizador, ou usar a autenticação integrada do Windows (em que as contas de utilizador de domínio são também usadas na bd). Esta é uma decisão que se repercutirá mais tarde na manutenção e monitorização da actividade da bd. Se começarmos com a abordagem mais simples (poucos logins), podemos mais tarde introduzir o esquema de autenticação por utilizador do SIG.

Uma das razões apontada para usar o esquema de mais utilizadores, é que podemos controlar exactamente quem está ligado, ou mesmo até saber quem editou os dados numa dada altura. E esta é uma argumentação válida. Mas a abordagem mais simplista, de poucos logins, também permite algum controlo, uma vez podemos ver no servidor a listagem de conexões activas, e estas são descritas não só pelo login usado, mas também pelo nome da máquina de onde são efectuadas. Como em geral, uma máquina pertence a um utilizador, acabamos por saber que utilizador “real” está efectivamente ligado à bd.

Utilizadores e Schemas

Outra questão a considerar é a de quantos “schemas” serão criados na bd. Um schema é um agrupamento de objectos na bd ao qual se atribui um nome; o nome dos objectos apenas se podem repetir em schemas diferentes. Por exemplo, podemos ter schemas com o nome “Ambiente” com os dados desta temática, ou “Cadastro”, e por aí fora. É preciso sublinhar que podemos controlar quem tem acesso a um schema, podendo proibir o acesso a certos utilizadores, dar acesso apenas de leitura, ou por fim, dar controle completo.

Quando possível, prefiro usar o schema “public” criado de raiz durante a instalação do PgSQL, e não criar mais schemas. Esta abordagem é muito simples, e tem a vantagem de ser a mais compatível com o software que interage com o PostGIS (já aconteceu usar software que não via outros schemas além do public), além de simplificar a gestão de privilégios (o que também pode ser limitativo, caso as nossas necessidades exijam compartilhar os dados por áreas de edição).

Mas sucede que o ArcSDE necessita que todos os utilizadores que criam dados tenham o seu próprio schema. Pelo que a centralização dos dados geográficos no schema public não é possível. Temos de ter tantos schemas quantos os utilizadores que criam dados. Ou seja, se o utilizador João for alguém que tem de criar tabelas novas na bd, então terá de ter obrigatoriamente o seu próprio schema, e com o mesmo nome “João”!

A questão não é complicada se tivermos poucos criadores de dados, porque teremos de criar poucos schemas. Isto não impede que haja muitos editores, que podem editar dados de outros utilizadores e por isso não precisam de ter o seu próprio schema.

Mais info sobre schemas pode ser encontrada na documentação do PgSQL.

Criar Utilizadores

Para criar utilizadores no PostgreSQL usamos o PgAdmin (programa de administração) para criar “login roles“. Podemos também criar perfis que no PgSQL são denominados “group roles“, e que permitem gerir conjuntos de utilizadores em simultâneo, que partilham privilégios. O ArcSDE necessita que certas regras sejam seguidas na criação de utilizadores, se quisermos usar o ArcGIS para criar, editar e visualizar os dados.

Em resumo, para criar um novo utilizador que pode criar novos dados através do ArcGIS/ArcSDE, vamos:

i) criar um schema com o mesmo nome do novo utilizador; e

ii) criar um novo login na base de dados postgis, chamado por exemplo “gestorsig”. (Podemos usar o PgAdmin, mas aconselho usar a janela de sql para criar o utilizador.)

O utilizador deverá ter privilégios totais no seu próprio schema, mas também o privilégio de “usage” sobre o schema “sde”, onde são colocadas as tabelas de sistema do ArcSDE. Isto é necessário porque quando o utilizador cria uma nova tabela tem de a registar numa série de tabelas de sistema. Claro que isto é feito automaticamente pelo par ArcSDE/ArcGIS, mas se o utilizador não tiver privilégios não será possível.

Por outro lado, o utilizador “sde” precisa de ter acesso às tabelas criadas, sendo por isso necessário atribuir-lhe o privilégio “usage” sobre o schema do novo utilizador, para que seja capaz de efectuar algumas operações de manutenção (limpeza do versionamento).

E ainda um passo final – como optámos por armazenar os nossos vectores usando o tipo espacial nativo do PostGIS, o nosso utilizador necessita de acesso de escrita à tabela “public.geometry_columns”, onde se registam todas as tabelas espaciais do PostGIS. De outra forma, as nossas tabelas não seriam reconhecidas como tendo geometrias.

Concluindo, para criar um utilizador capaz de criar novas tabelas, usamos o seguinte SQL:

Update (13/06/2010): é também necessário dar pelo menos acesso (SELECT) à tabela de sistemas de coordenadas (spatial_ref_sys).

create role gestorsig login password 'PasswordDoUtilizador' noinherit createdb;
create schema gestorsig authorization gestorsig;
grant usage on schema sde to gestorsig;
grant usage on schema gestorsig to public;
grant select, insert, update, delete on table public.geometry_columns to gestorsig;
grant select on table public.spatial_ref_sys to gestorsig;

Neste código há uma pequena nuance: damos acesso ao nosso schema a todos os outros utilizadores (“…to public”), e assim não nos preocupamos se damos acesso a A ou B.

Para criar um utilizador que edita dados, mas não cria novas tabelas, o processo é quase igual. Apenas não necessita do seu próprio schema (usará o public por default):

create role editorsig login password 'PasswordDoUtilizador';
grant usage on schema sde to editorsig;
grant select, insert, update, delete on table public.geometry_columns TO editorsig;

Nota: como o nosso utilizador que cria dados (gestorsig) deu acesso a todos os utilizadores, não temos de o fazer explicitamente para novos utilizadores.

Nota 2: para podermos editar os dados criados pelo gestorsig, temos de dar privilégios de UPDATE ao nosso editor. Podemos fazê-lo usando o ArcCatalog (selecionar as Feature Classes, e com botão direito usar a opção “Privileges”), ou usando SQL.

No caso de utilizadores que só visualizam dados, o processo é igual. A diferença é que no ArcCatalog apenas damos o privilégio de SELECT sobre os objectos criados.

Deixo aqui 2 links que resumem a forma de criar novos utilizadores:

Todo este processo é muito semelhante ao que se passa com outros SGBDR’s, como Oracle ou SQL Server. Apenas muda a terminologia, e alguma da lógica de compartimentação da estrutura da bd. Para quem vem do mundo Oracle, a adaptação ao PostgreSQL é muito fácil, e para utilizadores de SQL Server não é muito diferente…

PostgreSQL e ESRI – parte 2

Tempo de leitura: 4 min

Este post é o 2º sobre integrar ArcGIS e PgSQL. A 1ª parte pode ser encontrada aqui.

Este artigo continua a experiência de usar o PgSQL como base de um SIG baseado em ArcSDE/ArcGIS, debruçando-se sobre a instalação e tipo de conexões. Não é uma introdução ao PostgreSQL/PostGIS, e é assumido que o leitor tem algum conhecimento prévio ou que o irá obter noutra fonte… por exemplo aqui:

Instalação do ArcSDE+PostgreSQL+PostGIS

O instalador do ArcSDE é muito simples, e até inclui o PostgreSQL. Mas se seguirmos o wizard de instalação do ArcSDE, não será instalado o PostGIS e o ArcSDE será instalado no seu modo default, com o seu próprio tipo espacial (coluna de geometria) e o seu próprio SQL espacial. Desta forma, só se consegue aceder aos dados geográficos com software ESRI.

Para instalar o ArcSDE de forma a que os dados sejam armazenados usando o tipo espacial do PostGIS é necessário desviarmo-nos um pouco do caminho seguido pelo wizard de instalação. Quando o wizard acaba de instalar o PostgreSQL, temos de parar, e instalar o PostGIS, antes de prosseguir com o wizard do ArcSDE. Tudo é bem explicado neste artigo da ESRI:

HowTo:  Install PostgreSQL 8.3.0, ArcSDE 9.3, and PostGIS 1.3.2 on Windows

No final da instalação ficamos assim com o PostgreSQL, o PostGIS, e o componente ArcSDE.

O componente ArcSDE cria uma base de dados no PostgreSQL, chamada “sde”, e um utilizador próprio chamado “sde”. É nesta bd que ficam as tabelas de sistema do ArcSDE e a suas próprias funções, triggers, etc.

O nosso servidor PostgreSQL fica também com a estrutura habitual do PostGIS, havendo uma bd denominada “postgis”. Nesta bd também são instalados objectos do ArcSDE, como tabelas de configuração da geodatabase que mantém registo dos objectos que são criados através de software ESRI e que compõem o modelo de dados da geodatabase.

Na instalação há um problema com privilégios – a instalação do ArcSDE pára porque não consegue escrever nas directorias do PostgreSQL (“lib” e “bin”). Para resolver basta usar o explorador do Windows para adicionar o privilégio de escrita nessas pastas ao nosso utilizador (que estamos a usar ao executar o instalador do ArcSDE). Se usarmos o utilizador “Administrator” o problema não surge.

Outra nota importante é que o PostgreSQL é instalado com as definições pré-definidas. Sucede que estas definições são à prova de equipamento pré-histórico… ou seja, o PostgreSQL instalado e sem alterações funciona até num Intel 486 com 256MB de memória. Mas claro que a performance não é a desejada e deve-se editar as configurações. Noutro artigo espero discutir um pouco as opções mais comuns a alterar.

A título de curiosidade, os valores default de configuração ocupam cerca de 60MB de memória (sem iniciar o serviço SDE e sem contar com o pg_ctl.exe).

Tipo de Ligações ArcSDE

Depois da instalação são criados 2 novos serviços no Windows: o usual do PgSQL, e um próprio do ArcSDE.

O serviço do ArcSDE é o gestor de conexões do ArcSDE. Ou seja, as aplicações da ESRI ligam-se a este serviço, que depois inicia as conexões à base de dados para cada aplicação. A ESRI designa este esquema conexões como “Application Server connections” ou de 3 camadas (3-tier). Cada utilizador de ArcGIS que se liga deste modo vai criar um processo no servidor chamado “gsrvr.exe”, que optimiza a comunicação dos dados entre a bd e o ArcGIS. Cada um destes processos ocupa entre 15MB e 100MB de memória, para além da memória ocupada pelo próprioPgSQL. Se houver 10 postos ArcGIS, serão lançados 10 processos destes no servidor, ocupando 150-1000MB de memória. Isto para além dos processos que o PgSQL irá criar por si.

Nos últimos anos, a ESRI tem vindo a incentivar o uso de outro tipo de conexões – conexões directas.

Nas conexões directas não é necessário usar o serviço ArcSDE, o  ArcGIS liga-se directamente à bd. Isto é possível porque o ArcGIS passou a incluir as dll’s do ArcSDE, e assim a memória que era ocupada no servidor passa a ser consumida no PC com o ArcGIS. O inconveniente é que estas conexões ocupam um pouco mais a rede, mas teoricamente não há impacto perceptível. Com as conexões directas apenas temos de contar com os processos do próprio PgSQL.

Naturalmente, desde que a rede não esteja congestionada, é preferível usar conexões directas. No entanto, o esquema de conexões 3-níveis permite separar o ArcSDE da bd, o que possibilita a utilização de clusters, beneficiando da distribuição de carga que este tipo de sistemas oferece.

Conexões PgSQL

O PgSQL quando inicia cria um conjunto de 6 processos em memória no servidor. Em Windows, todos estes processos se chamam “postgres.exe”. Um destes processos é o processo principal do servidor que mantém a cache de dados e outras informação que persistem entre conexões. A configuração do PgSQL influenciará principalmente este processo, que tanto pode ocupar 26MB como 500MB, ou mais.

Por cada cliente que se conecta (QGIS, gvSIG, …), o PgSQL cria mais 1 processo na memória do servidor, correspondendo a essa conexão (curiosamente, no caso do ArcGIS são sempre criados 2 processos postgres.exe). Este processo ocupará memória consoante as definições do PgSQL, dependendo fortemente do tipo de operações executadas pelo cliente. Assim, uma pesquisa simples consumirá pouca memória, mas a visualização de um layer com 120.000 registos já ocupará +200MB. O caso de maior carga que encontrei foram operações de carregamento de informação em massa ocupando 500MB de memória ou mais.

Confesso que não estou habituado a esta flutuação no consumo de memória. Ao usar Oracle, temos uma certa rigidez no consumo de memória, que orbitará em redor dos parâmetros determinados pelo gestor. Se o Oracle der sinal de necessitar de mais memória, é o gestor que tem de redefinir os parâmetros permitindo que o Oracle consuma mais memória.

No caso do PgSQL, a memória ocupada é também reflexo da configuração definida pelo gestor, mas a variação da memória ocupada é muitíssimo maior. E varia por cada utilizador que se liga, e pelas operações que irá efectuar. É um dimensionamento mais difícil de manter dentro dos limites do servidor.

Suponho que é uma questão de habituação ao processo. Durante uma fase inicial de implementação será necessário monitorizar de perto a utilização de memória no servidor, e adaptar as configurações do PgSQL. Tal e qual como se passa com outros servidores SGDB. Penso ainda regressar a este assunto, continuando esta série de artigos… até breve.

SASIG II – Notas

Tempo de leitura: 3 min

As 2ªs Jornadas de Software Aberto de Sistemas de Informação Geográfica terminaram, e pensei em escrever um pequeno post sobre o evento.

Em relação à organização, foi consensual – a qualidade do evento foi muito acima da média, mesmo comparando com eventos de muito maior dimensão. O espaço estava bem adaptado e equipado, e o evento social (jantar) foi simplesmente fantástico.

Mas o que mais sobressaiu foi o espírito que se viveu na conferência. Falando com várias pessoas, todas apontavam este sentimento de partilha, entre-ajuda, e camaradagem, como algo de especial, que não se vê noutros congressos. Por isso, aconselho vivamente a quem se interesse pela área dos SIG que assista às próximas SASIG em 2010, que serão em Lisboa (temos de aguardar por mais detalhes).

Convidados

O facto de termos presentes alguns convidados de fora, envolvidos em projectos de grande projecção, também ajudou e muito a elevar o nível de interesse. Estiveram presentes e fizeram apresentações responsáveis dos projectos World Wind (da NASA), do gvSIG, do Sextante. Também foi muito interessante ouvir as experiências e opiniões de pessoas envolvidas no desenvolvimento de comunidades noutros países, havendo representantes da própria OSGeo internacional, e dos capítulos locais Italiano e Espanhol.

Comunicações

Quanto às apresentações, foi apresentado um bom painel de assuntos, muito abrangente. Das apresentações que vi, apreciei muito 2 apresentações de mestrandos, com excelente nível técnico, o que comprova a qualidade do nosso ensino e dos nossos estudantes. Precisamos de mais casos assim, e pessoalmente gostaria de ver mais comunicações universitárias com tão elevado grau de exigência.

Todas as comunicações estão já disponíveis para download (84MB), e parece que teremos o video também em breve:

http://evora.sigaberto.org/downloads/apresentacoes.zip

Uma apresentação que me chamou a atenção em especial foi a do Sapo Mapas. Este site de mapas aparentemente fez tudo bem: tem cartografia temática de grande qualidade, com uma quantidade impressionante de pontos de interesse (200 mil agora, para breve 600 mil), pesquisa de códigos postais 7 dígitos, itinerários, “trânsito em directo”, fotografias panorâmicas, e ainda uma API que qualquer pessoa e empresa pode usar para incluir mapas no seu próprio site, e totalmente gratuita, mesmo em caso de sites com fins comerciais. A continuar assim, esta é uma grande novidade em Portugal, e penso que o é mesmo a nível mundial. Não conheço outra API que tenha uma licença tão livre, ficando Portugal mais bem servido que todos os outros países. É claro que fica o receio da PT alterar o licenciamento e ficarmos com o nosso site ilegalizado, mas para já o facto é que é gratuita.

A API é muito semelhante à do OpenLayers, pelo que será muito familiar a quem conhece. No site do Sapo Mapas há documentação e exemplos para quem quiser aventurar-se. Mas acho algo penoso que tenham reinventado a API do OpenLayers – podiam ter usado o original.

Workshops

Foram realizados diversos worshops, ou sessões práticas de 3-4h, sobre diversos programas: gvSIG, OpenLayers, PostgreSQL/PostGIS, Quantum GIS, World Wind, Linux, Sextante, GISVM, e MapServer.

Pretende-se publicar online os materiais de cada workshop (dados e slides), mas para já temos a possibilidade de obter um zip dos dados de cada workshop no site das jornadas aqui:

http://evora.sigaberto.org/?q=node/85

Uma iniciativa que achei interessante foi a de ter sido criada uma distribuição Linux própria para estes workshops, com todo o software pré-instalado. Poderão ter de ainda copiar os dados dos workshops, mas de resto está tudo lá. Podem obter esta distribuição no mesmo link dos workshops.

Se gravarem o ficheiro (iso ou img) para uma pen usb ou para um DVD, podem ligar o computador a partir destes suportes, ficando com uma máquina Linux funcional, sem necessitar de mais instalações de software. Também se quiserem, podem converter estes ficheiros numa máquina virtual, que pode ser usada mesmo em Windows, novamente sem instalações de software (a não ser, claro, o software para utilização de máquinas virtuais – por exemplo o Virtual Box OSE).

Para breve está prometido um local para descarga dos materiais incluindo os slides.

PostgreSQL e ESRI – Parte 1

Tempo de leitura: 7 min

A atracção do software Open Source é também sentida pelos utilizadores ESRI. Numa discussão na web li uma vez alguém descrever um utilizador de ArcGIS da seguinte maneira: “a única forma de retirar o ArcGIS das mãos de um utilizador é arrancá-lo das suas mãos mortas e frias”… a crer nisto, no lado de aplicações SIG desktop não será fácil substituir o ArcGIS por qualquer outra alternativa.

Será no entanto mais fácil explorar alternativas para os componentes que se encaixam na área dos servidores SIG, ou seja, bases de dados espaciais e servidores webGIS. Um dos produtos Open Source que tem recebido muita atenção na comunidade ESRI é o par PostgreSQL+PostGIS, que recentemente foi incluída na lista de bases de dados suportadas pela ESRI.

A partir da versão 9.3 a ESRI incluiu a possibilidade de utilizar, com toda a sua família de software ArcGIS, a base de dados PostgreSQL e o seu módulo geoespacial PostGIS, ambos Open Source. Esta possibilidade é muito atraente por vários motivos, sendo para mim os mais importantes:

  • PostgreSQL e PostGIS são produtos de grande qualidade, grande difusão, com utilizadores de referência credíveis, existindo uma comunidade muito activa ao seu redor;
  • São Open Source e gratuitos;
  • Oferecem funções de manipulação e análise geográfica de dados vectoriais através de SQL, ombreando com os melhores produtos existentes, open source ou comerciais;
  • Seguem os standards da indústria para SQL espacial (da OGC, e neste momento está em fase de implementar o standard da ISO), o que é obviamente uma abordagem irrepreensível e de enorme importância;
  • Quase a totalidade das aplicações SIG Open Source são compatíveis com esta bd;
  • O facto da ESRI incluir esta base de dados no grupo de sistemas suportados “oficialmente”, oferece uma segurança aos departamentos de TI que pode ser um factor decisivo na adopção ou não do PostgreSQL na empresa (e eu sei que este ponto gera polémica na comunidade de utilizadores e apoiantes, mas é um facto que existe esta barreira).

Porquê mudar?

Uma plataforma SIG muito comum, e aquela com que mais trabalho, é baseada em Oracle e ArcSDE, onde vários utilizadores de ArcGIS visualizam e editam a informação aí residente, havendo também servidores webGIS e aplicações que utilizam a informação residente em Oracle/ArcSDE. Neste artigo vou frequentemente referir esta arquitectura como ponto de comparação.

Quando já existe, trocar de base de dados não é tarefa fácil, consoante o volume e complexidade da informação existente, da dependência das aplicações desenvolvidas, e das novas competências que será necessário adquirir. Mas, há um  momento fulcral na vida de uma base de dados durante o qual vale tudo: a migração de servidor e upgrade de versão!

Nesta situação, a vantagem de migrar para PostgreSQL/PostGIS é passar a contar com um grande conjunto de aplicações SIG Open Source que podem usar a base de dados sem passar pelo ArcSDE – ou seja, podemos usar software não-ESRI e software ESRI para ler e manter a base de dados geográfica, efectivamente criando um sistema híbrido. (NOTA: uso aqui a expressão “SIG Híbrido” no sentido de integrar componentes comerciais e componentes Open Source num sistema de forma a usufruir das vantagens de cada componente, com as dificuldades inerentes, tal como Dan Dale Lutz tão bem explicou aqui.)

Note-se que esta interoperabilidade já é possível em alguma medida, especialmente com Oracle, desde que os dados sejam armazenados em Oracle Spatial ou Locator (sempre incluído em todas as versões Oracle). Só que neste caso existem muito menos aplicações SIG que lêem este tipo de dados, algumas Open Source. Mas em geral, as opções Open Source têm uma compatibilidade pouco fiável e de instalação nem sempre fácil. Por outro lado, tenho encontrado sistematicamente um desempenho muito inferior ao usar ArcGIS com dados Oracle Spatial quando comparado com o modo tradicional do ArcSDE armazenar dados em Oracle (denominado SDEBINARY). Mais sobre estas opções adiante…

Um sistema híbrido porquê?

O cenário de adoptar o PostgreSQL num SIG baseado em ESRI (ou Autodesk) implica que se pode manter todo o restante ecossistema SIG – ferramentas desktop, servidores webGIS, e aplicações desenvolvidas, bem como o nível de produtividade actual da equipa de edição/análise (que tipicamente é atingido após anos de experiência da equipa técnica com estas ferramentas). E ainda se abrem as portas para alargar o ecossistema a ferramentas  Open Source e de outros vendedores.

No caso da ESRI, todo o seu software comunica com o ArcSDE para chegar aos dados, e não directamente com a base de dados. Por isso a troca por outra bd não tem qualquer impacto sobre a restante plataforma SIG. E isto é uma vantagem. Claro que a desvantagem é o preço do ArcSDE…

No caso em que o ArcSDE já existe, podemos alegremente ignorar este custo (embora o custo de manutenção anual continue a existir)!! Em situações onde não exista ArcSDE deve-se incluir o seu custo de aquisição na análise das alternativas disponíveis.

A vantagem do SQL espacial

Um dos grandes trunfos de usar uma bd que, como o PostgreSQL+PostGIS, oferece funções de manipulação e análise espacial por SQL é podermos usar comandos na própria bd que vão efectuar as análises que estamos habituados a fazer apenas com as nossas ferramentas SIG desktop favoritas.  (Aliás, para ser exacto, o ArcSDE desde a v9.3 adiciona sempre o seu próprio dialecto de SQL espacial à bd onde é instalado, que pode ser usado como alternativa ao SQL nativo da bd. Isto também se aplica ao PostgreSQL. O administrador da bd é que decide se usa o dialecto da ESRI ou o dialecto nativo da bd.)

Por exemplo, com SQL espacial é possível seleccionar as classes de solo intersectadas pelo novo traçado do IP2, recorrendo apenas ao PostgreSQL, e sem usar ArcView. E como a máquina onde se instalam bases de dados é tipicamente muito mais potente que o nosso posto de trabalho, a velocidade de processamento destas análises será também superior. Já para não falar de evitar a transmissão de dados na rede entre a bd e o posto de trabalho. Apenas os resultados são transmitidos à aplicação SIG para visualização.

Então porque é que não estamos todos a usar SQL espacial para fazer análise geográfica?

Porque ainda é preciso que o utilizador saiba escrever estes comandos SQL! E isto não é uma tarefa trivial. Notem que escrevi “ainda é preciso saber…” sendo a palavra chave “ainda“. Isto porque hoje todas as bases de dados comerciais têm suporte a SQL espacial – Oracle, SQL Server, DB2, Informix – umas há mais tempo que outras, umas com SQL mais padronizado que outras, mas a funcionalidade está lá. O que falta são as aplicações que sabem executar essa análise nessas bd’s, facilitando a vida ao utilizador com botões e menus amigáveis, e dispensando assim o conhecimento de SQL espacial!

Por exemplo, quando o ArcView calcula um buffer não utiliza as capacidades da bd de cálculo de buffers, mesmo que elas existam. Apenas lê os dados armazenados na bd, e usa o nosso posto de trabalho para fazer o cálculo. E a esmagadora maioria das aplicações SIG actuais fazem o mesmo, quer comerciais quer Open Source.

Mas parece-me inevitável que ao longo dos próximos anos assistamos à mudança deste paradigma. Até porque desde que a Microsoft incluiu SQL espacial no SQL Server 2008 há toda uma nova geração de programadores que “acordou” para as capacidades do SQL espacial.

Quando uma aplicação SIG com peso no mercado conseguir fazer uma análise 10x mais rapidamente que os seus concorrentes (porque recorre às capacidades do servidor de base de dados) o que acham que vai acontecer?

Opções para utilizadores ESRI

Então que opções existem para os utilizadores ESRI que querem utilizar PostgreSQL+PostGIS?

ArcSDE

A opção standard do ponto de vista da ESRI é, claro, instalar o ArcSDE. Na versão 9.3 existe um setup de instalação que até instala o PostgreSQL e o PostGIS de uma forma muito automatizada. Pode-se encontrar alguns tutoriais de instalação, como este do Adriano Hantequeste: ArcSDE [Passo 1] Instalando o PostgreSQL. Há que ter atenção, no entanto, aos passos opcionais de instalar o PostGIS manualmente, para podermos no fim optar pelas suas capacidades nativas. (No manual de instalação do ArcSDE está tudo bem explicado.)

Mas há mais para além da instalação do ArcSDE. Podemos configurar a forma como o ArcSDE armazena os dados vectoriais no PostGIS. Existem 2 opções:

  • formato proprietário ESRI (ST_GEOMETRY)
  • formato nativo PostGIS (PG_GEOMETRY)

Estas opções definem o formato como as geometrias dos nossos vectores são armazenados na bd. Para o utilizador de ArcGIS é invisível se optamos por uma ou outra, mas há consequências importantes.

O formato ESRI guarda as geometrias no PostgreSQL de forma a que apenas se podem ler ou alterar usando software compatível (leia-se ESRI). Ou seja, o Quantum GIS para ler estes dados terá de usar um plugin ArcSDE (para ser exacto, o plugin é instalado no OGR que por sua vez é usado através do QGIS).

Por sua vez, o formato PostGIS guarda as geometrias usando as capacidades do PostGIS, e isso significa que todo o software compatível com PostGIS as pode ler e alterar. Ou seja, podemos carregar dados na bd usando o ArcCatalog (que passa pelo ArcSDE), e depois usar o QGIS para ler esses dados, sem passar pelo ArcSDE e sem plugins. Confuso? Espero que não… em última análise, esta opção permite ter na empresa aplicações gratuitas como o QGIS a usufruirem da bd central, a fazer impressões, análises, confrontações, etc. sem duplicação de dados ou conversões desconfortáveis.

Como se configura esta opção do formato de armazenamento das geometrias?

Sem querer entrar em grandes detalhes, pode-se dizer que é muito simples. Basta executar um comando que altera uma linha na tabela de configuração do ArcSDE. O comando é o seguinte:

sdedbtune -o alter -i 5151 -k DEFAULTS -P GEOMETRY_STORAGE -v “PG_GEOMETRY” -s <server_name> -D postgis -u sde -p <ArcSDE_admin_password>

Esta opção tem outras configurações e particularidades que terão de ficar para outra oportunidade.

zigGis

zigGIS é uma extensão para ArcGIS que permite ler e escrever em PostGIS, sem usar ArcSDE. É um produto que começou como Open Source, e que evoluiu para uma solução comercial. Embora a fonte do programa esteja disponível, é exigida a compra de licenças na maioria das situações (excepto para uso pessoal e académico que continuam isentos de pagamento – ver licença aqui).

Ora o preço é de apenas US $279! por posto de trabalho. É naturalmente muito apetecível. O cenário em vista é conseguir um SIG, com base de dados geográficos e aplicação desktop de topo, apenas pelo preço de ArcView + $279.  Será que há algum truque, uma armadilha? Parece que não, a ver pelo excelente exemplo da implementação na Câmara Municipal de Albufeira, é uma opção extremamente flexível.

O papel do ArcSDE

Claro que surge a questão óbvia: então para que serve o ArcSDE? Bom, esta questão é debatida há muitos anos, bem antes de existir o zigGIS, e posso apenas manifestar a minha opinião – o ArcSDE é o pivot de dados que serve toda a plataforma ArcGIS – desde o modelo de dados, ao servidor webGIS, às aplicações desktop. Sem o ArcSDE, as várias peças do ArcGIS “descolam”, e temos de recorrer a ficheiros para partilhar informação entre as componentes do sistema. Por outro lado, o ArcSDE permite à ESRI implementar funções para além dos standards. Em geral, os standards na área SIG e SQL são desenvolvidos mais lentamente que as aplicações desenvolvidas pelos maiores fabricantes. Por exemplo, antes de existir WMS já existiam servidores webGIS. Antes de existir standard de SQL espacial, já existiam bases de dados geográficos. Com o ArcSDE a ESRI implementa um modelo de dados com funcionalidade que não está padronizada pela indústria: rasters, terrains (para LIDAR), topologia com regras de validação automática, gestão de versões, gestão de histórico, bd’s distribuídas, sincronização de bd’s… bom, não é o meu papel “defender” o ArcSDE, mas encontro valor acrescentado no produto. Para os casos que não necessitam desta integração ou destas funções, fará menos sentido a sua aquisição. Para os outros casos…

Conclusão

Já vai longo este artigo… contra todas as regras de bom comportamento em blogs 🙂

Nos próximos tempos penso continuar este tema com mais alguns artigos, olhando com mais detalhe para a combinação PostgreSQL+PostGIS<->ArcSDE<->ArcGIS.

Para já, é certo que podemos contar com a possibilidade de criar sistemas híbridos com software ESRI e componentes Open Source, usando o melhor dos 2 mundos. E isso é um passo de gigante  que demorou décadas a chegar ao ArcGIS, mas finalmente aí está.

Balanço Open Source para SIG

Tempo de leitura: 3 min

Já há algum tempo que tenho planeado escrever sobre a integração entre Postgresql e ArcSDE, agora que a ESRI suporta esta combinação. Mas ao começar esse artigo dei por mim a reflectir sobre a utilização que faço de ambos os mundos – open e closed source…

Sou utilizador de software ESRI há muitos anos, e sou também utilizador de software Open Source em tempo igual. Curiosamente.

Sucede que comecei a trabalhar em SIG num projecto de investigação na universidade (no Instituto Superior de Agronomia, “antigo” Dept. de Eng.ª Rural), e em simultâneo iniciei o mestrado. No projecto de investigação trabalhei com Linux, aprendendo as bases deste SO que ainda hoje me servem – na altura não havia sistemas de distribuição de pacotes de software já pré-configurados… por exemplo, o sistema de email que usava tive que o compilar… outros tempos (sou tão velho “informaticamente” que a minha mulher quer oferecer-me pelo aniversário uma tshirt do ZX Spectrum). Para a tese de mestrado usei ArcInfo numa estação de trabalho IBM com o SO AIX, uma variante de Unix desenvolvido por este fabricante. Desde aí mantive o gosto por Open Source, e continuei utilizador ESRI.

Para um utilizador ESRI, a integração com software Open Source é uma questão muito pertinente, por vários motivos – anoto aqui apenas alguns. Afinal, e não o escondo, o ArcGIS é o meu software SIG favorito, mas não faz tudo o que preciso, e nem tudo o que faz é feito da melhor forma. Nada melhor do que complementá-lo com pérolas de software gratuito. Por outro lado, existem tarefas para as quais prefiro utilizar um programa mais ligeiro, como o QGIS. E claro, para tarefas relacionadas com outro software Open Source também não é o mais indicado. Por exemplo, exportar um ficheiro .map para o MapServer a partir de um mapa devidamente simbolizado. Também a interoperabilidade e capacidade de interagir com os diversos standards OGC são limitadas no ArcGIS em alguns aspectos. Por exemplo, criar ficheiros SLD (de simbologia) para uso no GeoServer. Mas para os críticos do ArcGIS não se ficarem a rir, não conheço nenhum outro programa que crie ficheiros KML tão facilmente e com tanta funcionalidade como o ArcGIS. E o KML também é um standard OGC…

A situação com o Software Aberto na área SIG (SASIG) teve uma evolução explosiva nos últimos anos. Na minha opinião, devido em grande parte à publicidade positiva que a área recebeu da Google e a Microsoft. E hoje o panorama de software no lado do servidor e no lado do desktop é extraordinário. O software Open Source não serve só como complemento, e terá todo o mérito e capacidade em ser utilizado como peça central de um SIG. Tudo depende dos objectivos, necessidades, e processos de trabalhos escolhidos.

No servidor, temos 3 players fenomenais: MapServer, GeoServer (web), e Postgresql+PostGIS (bd).

No desktop, podemos também escolher facilmente 3 campeões da causa: gvSIG, Kosmo, e Quantum GIS – embora existam muitos mais.

Na categoria de ferramentas para conversão de dados, que tanto são usadas no lado servidor como no lado desktop, temos o incontestável par GDAL/OGR para raster e vector. Outras iniciativas mais recentes que poderão ser interessantes são o FeatureServer, o Spatial Data Integrator e o GeoKettle (ambos semelhantes ao FME).

Para o desenvolvimento de aplicações web também temos óptimos produtos: OpenLayers, pmapper, MapFish, e vários outros.

Já para desenvolver aplicações desktop o cenário é muito diferente, e não será uma tarefa fácil tentar criar uma aplicação SIG baseada em componentes Open Source. Pessoalmente, a minha opção seria sempre pela facilidade de utilização, e assim optaria pelo objecto ActiveX do MapWindow GIS, ou o extraordinário SharpMap para .NET (cujo desenvolvimento tem sido extremamente lento, para grande desencanto da comunidade… o jovem Morten foi contratado pela… (suspense)… ESRI!). Estas seriam as opções mais simpáticas, com menor exigência técnica e de tempo para criar uma aplicação SIG desktop adaptada a um objectivo específico.

Para adeptos Java existem também várias opções, embora mais complexas. As opções mais proeminentes serão a GeoTools (sem mecanismo de visualização?), GISToolkit (última versão de 2003), e OpenMap (apenas visualização). O mundo Java é para mim mais desconhecido, e agradeço contribuições de quem tenha mais prática com esta tecnologia para esclarecer a situação actual face a componentes SIG.

A área continua a evoluir e é difícil manter uma noção actualizada do que vai acontecendo nos vários domínios. Têm vindo a ser publicados artigos com o diagnóstico da “situação actual”:

Faltará talvez uma página web fixa onde se possam actualizar os vários produtos, talvez num wiki? Para nós lusófonos, seria excelente manter uma página destas no wiki do OSGeo PT. Há voluntários???

GDAL Como criar ficheiros tfw

Tempo de leitura: < 1 min

Uma nota rápida sobre criar ficheiros de georreferenciação .tfw a partir de ficheiros GeoTiff.

As imagens GeoTIFF são ficheiros TIFF que contém a georreferenciação na própria imagem e por isso não são acompanhados pelo ficheiro .tfw, que é apenas um ficheiro de texto indicando as coordenadas da imagem.

Existem momentos em que queremos ter os TIFF acompanhados dos ficheiros tfw, seja porque o programa que vamos usar o exige ou porque a aplicação que estamos a desenvolver só consegue ler as coordenadas num ficheiro de texto, ou por outra razão qualquer…

A questão é saber: existe alguma forma rápida de obter o ficheiro tfw??

Claro. Basta usar um comando que vem incluído na distribuição FWTools e no MS4W (que inclui o GDAL), e que se chama listgeo.

Ao executar o listgeo numa janela FWTools, recebemos de volta a apresentação da sintaxe:
C:\Program Files\FWTools2.2.6>listgeo
Usage: listgeo [-d] [-tfw] [-proj4] [-no_norm] [-t tabledir] filename

-d: report lat/long corners in decimal degrees instead of DMS.
-tfw: Generate a .tfw (ESRI TIFF World) file for the target file.
-proj4: Report PROJ.4 equivelent projection definition.
-no_norm: Don't report 'normalized' parameter values.
filename: Name of the GeoTIFF file to report on.

Assim, para criar o .tfw de uma imagem podemos usar um comando como o seguinte:
listgeo -tfw 26501500.tif
E ficamos com o .tfw criado.
Dubium sapientiae initium.

GDAL: conversão entre formatos de imagem SIG

Tempo de leitura: 4 min

Esta é a parte 2 de um conjunto de artigos sobre o GDAL, o kit de ferramentas para conversão de imagens SIG. Pode também ler aqui a parte 1 desta série.

Conversão de formatos

Uma das operações mais comuns efectuadas com o GDAL é a conversão entre formatos. Alguns exemplos:

  • Converter de TIFF para JPEG, com ou sem georreferenciação
  • Converter de GeoTIFF para TIFF+tfw, e vice-versa
  • Manter o formato TIFF mas alterar a compressão interna, para JPEG, LZW e outras
  • Converter um dos formato suportados para ECW, um formato geo-espacial extremamente comprimido e de rápido acesso (na parte 3 desta série são analisados os diversos formatos comprimidos suportados pelo GDAL)

Comando de conversão básico

Nestes artigos usamos o FWTools, um pacote de várias aplicações que inclui o GDAL e que é fácil de instalar e usar.

Para aceder aos comandos do GDAL, executamos FWTools Shell (disponível no desktop ou no menu Iniciar) para abrir a janela de comandos pré-configurada do GDAL. Nesta janela podemos executar os comandos do GDAL sem preocupações com a definição correcta da PATH e outras variáveis de ambiente.

Assim, na janela do FWTools Shell, para converter um ficheiro TIFF para um ficheiro JPEG usamos o seguinte comando:

gdal_translate -of JPEG imagem.tif imagem.jpg

A sintaxe básica é portanto:

  gdal_translate -of formato_de_saída imagem_de_entrada imagem_de_saída.

No nosso exemplo, um ficheiro TIFF de 28MB passou a um JPEG com 2,15MB. Ou seja, foi obtida uma compressão de 92%. Claro que a taxa de compressão variará com a própria imagem em causa…

Controlando o processo de conversão

Para controlar a conversão, o GDAL suporta parâmetros dedicados a cada formato, denominados “Creation Options”, ou “co”. Como cada formato tem as suas próprias opções, é necessário consultar a documentação de formatos no site do GDAL para saber que opções existem.

Por exemplo, no formato JPEG as opções de criação são actualmente:

  • WORLDFILE=YES: Cria um ficheiro de coordenadas separado com a extensão .wld (que podemos renomear para .jgw para usar em ArcView)
  • QUALITY=n: Indica o nível de compressão, entre 10-100, sendo 75 o valor por omissão. Quanto maior a qualidade, menor a taxa de compressão obtida. Não se traduz directamente numa taxa 0-100%, mas influencia-a directamente. 
  • PROGRESSIVE=ON: Especialmente indicado para imagens publicadas online porque os browsers são capazes de os mostrar progressivamente consoante as descarregam. Outras aplicações podem não conseguir ler estas imagens.

Assim, assumindo que o nosso TIFF tem coordenadas, para o converter para um JPEG, manter as coordenadas, e ainda obter uma taxa de compressão superior (indicando uma qualidade de 25), o comando seria o seguinte:

gdal_translate -of JPEG -co QUALITY=25 -co WORLDFILE=YES imagem.tif imagem.jpg

O ficheiro passaria a ter apenas 902KB… e seria criado um ficheiro com o mesmo nome da imagem mas com extensão .wld. Este ficheiro contém a informação de georreferenciação do JPEG. Para que o JPEG pudesse ser usado correctamente no ArcView bastaria alterar a extensão para .jgw.

Transformar GeoTIFF em TIFF

O formato GeoTIFF é uma variante TIFF que inclui a informação de georreferenciação no próprio ficheiro TIFF, e não num ficheiro externo. Por vezes é útil podermos exportar esta informação para um ficheiro separado, normalmente com a extensão .tfw.

O comando para converter um GeoTIFF para TIFF “básico”, e com um ficheiro .tfw com a georreferenciação é:

gdal_translate -of GTiff -co PROFILE=BASELINE -co TFW=YES imagem.tif imagem_saida.tif

O GDAL usa a mesma sigla GTiff para indicar o formato TIFF e GeoTIFF. Para ver todas as opções de criação para o formato TIFF pode consultar a página do formato TIFF do GDAL.

Comprimindo ficheiros TIFF

Uma das opções mais interessantes permitidas pelo GDAL é comprimir o ficheiro TIFF, mas mantendo-o nesse formato. As opções de compressão disponibilizadas pelo GDAL são: JPEG/LZW/PACKBITS/DEFLATE/CCITTRLE/CCITTFAX3/CCITTFAX4/NONE.

Ou seja, um ficheiro TIFF pode ter a imagem comprimida num destes esquemas de compressão. A compressão JPEG é a opção mais recente, com a melhor taxa de compressão, mas que degrada a imagem e não é suportada por algum software.

A compressão LZW por outro lado, é capaz de oferecer uma boa taxa de compressão (~10%) e sem perda de qualidade. Também pode haver problemas de compatibilidade, mas de forma menos frequente.

Nos primeiros testes que efectuei com a compressão LZW fiquei surpreendido, negativamente. Isto porque o tamanho da imagem aumentou!! Depois de descobrir que é possível ajudar o algoritmo de compressão indicando o tipo de imagem que estamos a comprimir (com a opção PREDICTOR), o resultado já foi o esperado.

Para converter um ficheiro TIFF para outro, mas comprimido com LZW, usamos o comando seguinte:

gdal_translate -of GTiff -co PROFILE=BASELINE -co TFW=YES-co COMPRESS=LZW -co PREDICTOR=2 imagem.tif imagem_saida.tif

A opção PREDICTOR=2 é indicada para imagens de cor real, 32 bit, como ortofotomapas.

Existe uma compressão melhor que LZW para o formato TIFF mas que dá mais problemas de compatibilidade: DEFLATE. Este é o método de compressão usada nos ficheiros .zip, e pode dar melhores resultados.

Comprimindo directorias

Por vezes, temos muito mais do que apenas um ficheiro para converter ou comprimir. Quando temos uma directoria cheia de ficheiros para converter, o que fazer?

É possível criar um pequeno script na forma de ficheiro .bat que aplica um comando GDAL a todos os ficheiros com determinada extensão numa directoria, e que ainda grava os resultados noutra directoria…

Um desses scripts poderia ser:

@echo off
for /R %1 %%I in (*.tif) do gdal_translate -of JPEG -co QUALITY=25 -co WORLDFILE=YES %%I %2\%%~nI.jpg
:END

Este script irá converter todos os ficheiros TIFF na directoria a indicar pelo utilizador, para ficheiros JPEG, colocando-os na directoria de destino indicada. Podemos alterar o comando GDAL, mantendo o restante texto intacto, para obter diferentes operações.

Para usar este script seria necessário criar um ficheiro com extensão .bat com o conteúdo indicado acima. E para o executar, bastaria usar numa Janela de Comandos o seguinte:

exemplo.bat directoria_com_tiffs directoria_destino

 

E é tudo por agora. No próximo artigo desta série serão analisados os formatos de compressão mais comuns.

Até lá, boas navegações.

GDAL: Introdução a gestão de imagens georreferenciadas

Tempo de leitura: 3 min
Este é a 1ª parte de uma série de artigos que pretendo escrever sobre as ferramentas incluídas no GDAL: Geospatial Data Abstraction Library.
O GDAL (www.gdal.org) é o canivete suíço para conversão de imagens georreferenciadas, constituído por um conjunto de ferramentas usadas numa janela de Linha de Comandos (ou seja, sem interface gráfica). Mas o pacote de instalação mais popular para Windows, o FWTools, inclui também um visualizador/conversor com interface gráfica (OpenEV). O GDAL é usado em vários produtos Open Source e em vários produtos Closed Source, como o ArcGIS. Há ainda o irmão OGR para o universo de dados vectoriais, e que suporta também uma grande variedade de formatos e operações.
O autor principal e original (porque hoje são vários os autores que contribuem código) é o Frank Warmerdam, um pioneiro em Open Source para a área SIG, e que foi até recentemente o 1º Presidente eleito da OSGeo.

O que consegue o GDAL fazer?

O GDAL faz muito mais do que converter imagens. Em resumo, se tivesse de escolher um TOP 10, estas seriam as funções do GDAL que eu escolheria:

  1. Listar informação sobre uma imagem (sistema de coordenadas, resolução, sistema de coordenadas, e mais)
  2. Conversão entre 95 formatos (entre eles JPEG, GeoTIFF, ECW, JPEG2000)
  3. Reprojecção de imagens
  4. Criação de pirâmides (overviews) para visualização rápida de imagens de grande volume (“pesadas”) em MapServer
  5. Criação de índices de imagens, ou mais conhecidos por catálogos de imagens, também para utilização em MapServer (mas não só)
  6. Converter imagens 24bit para 8bit e vice-versa
  7. Criar um mosaico de imagens georreferenciadas, ou seja, criar uma imagem única que é o resultado da junção das imagens originais
  8. Transformação de uma lista de coordenadas entre 2 sistemas de coordenadas diferentes
  9. Criação – a partir de uma imagem – de uma estrutura de directorias com tiles para visualização em OpenLayers e Google Maps, com criação de pequenos visualizadores web já prontos a usar
  10. Criação de uma matriz (grid) a partir de um conjunto de pontos por interpolação espacial, usando diferentes métodos de interpolação

… e a lista não termina aqui…

Instalação

Bem, a instalação do GDAL é extremamente simples. Basta obter a última versão no sítio do FWTools, e descarregar a versão para Windows ou Linux. Usarei a versão Windows para todos os exemplos, porque trabalho geralmente com este SO. A versão para Windows é um instalador normal (.exe), bastando executá-lo para iniciar a instalação.

Durante a instalação podemos seguir com as opções pré-definidas. A instalação é muito rápida e no final, teremos um novo ícone no Ambiente de Trabalho chamado “FWTools Shell”. Este atalho abre uma janela de Linha de Comandos já configurada para usarmos os comandos do GDAL. Numa janela de Linha de Comandos normal (aberta executando o comando cmd.exe por exemplo) os comandos do GDAL não serão executados porque a PATH não estará correctamente definida (além de outras variáveis de ambiente) .

Primeiros comandos GDAL

Se leu este artigo até aqui, merece começar já a teclar comandos e ver resultados do seu esforço!

Por exemplo, para ver as características geográficas de uma imagem qualquer no disco, basta teclar o seguinte comando na janela do FWTools:

gdalinfo c:\directoria_de_exemplo\imagem.tif

Substitua o caminho e nome da imagem por dados reais que tenha no seu computador. No meu caso, o output foi o seguinte:

Driver: JP2ECW/ERMapper JPEG2000
Files: 0441A1Argbx.jp2
0441A1Argbx.jp2.aux.xml
Size is 8000, 10000
Coordinate System is:
LOCAL_CS["unnamed",
UNIT["unknown",1]]
Origin = (80000.000000000000000,-100000.000000000000000)
Pixel Size = (0.500000000000000,-0.500000000000000)
Metadata:
TIFFTAG_XRESOLUTION=1
TIFFTAG_YRESOLUTION=1
TIFFTAG_RESOLUTIONUNIT=2 (pixels/inch)
Corner Coordinates:
Upper Left  (   80000.000, -100000.000)
Lower Left  (   80000.000, -105000.000)
Upper Right (   84000.000, -100000.000)
Lower Right (   84000.000, -105000.000)
Center      (   82000.000, -102500.000)
Band 1 Block=8000x1 Type=Byte, ColorInterp=Red
Overviews: arbitrary
Band 2 Block=8000x1 Type=Byte, ColorInterp=Green
Overviews: arbitrary
Band 3 Block=8000x1 Type=Byte, ColorInterp=Blue
Overviews: arbitrary

Olhando para esta informação podemos facilmente obter a resolução da imagem (0,5m por pixel), as coordenadas da extensão da imagem (de 80000, -105000 a 84000, -100000) e do seu centro (82000, -102500), n.º de colunas (10000) e linhas (8000), e o sistema de coordenadas que nesta imagem não se encontra caracterizado e por isso o GDAL não o identifica.

Outro comando rápido é obter a lista de formatos que a versão instalada reconhece, isto porque dependendo da versão podemos ter mais ou menos formatos reconhecidos.

gdalinfo --formats

Por agora ficamos por aqui. Em breve, continuarei esta série de artigos com exemplos de transformação entre formatos de imagem, com descrição de alguns dos formatos mais interessantes – TIFF, JPEG, JPEG2000 e ECW.

Até breve!